Depoimentos: Cristina Marins
Caro Ángel,
Ontem terminei de ler o livro que recebi pelas mão de minha querida amiga. Quando este me foi gentilmente ofertado, Luana recomendou que eu o lesse e emitisse minha opinião. Esta mensagem é a minha tentativa de sanar esta dívida.
Talvez você tenha reparado que foram menos de 24 horas para que eu pudesse concluir a leitura das páginas escritas por ti. Creio que não são muitos os livros capazes de cativar um leitor assim pela alma, que permanece inquieta até a leitura do último parágrafo. “Para Sempre Raquel” foi um destes raros casos e o desenrolar da vida desta mulher através de sua apaixonada narrativa foi responsável pela minha inquietude em plena terça-feira de carnaval.
Uma antropóloga chamada Ligia Sigaud escreveu uma vez que o autor, não importa o quanto queira, não pode controlar o modo como o leitor interpreta sua obra. Pois eu usei e abusei desta minha liberdade de leitora para interpretar seus escritos, de modo que imaginei como bem entendia os olhos verdes de sua Raquel, seu batom vermelho escarlate, sua alegre desinibição. Tentei visualizar seus gestos, tentei ouvir sua voz, sua risada alta. Pensei que deve ter vindo dela, a generosidade que de tão grande parece ser ingênua, que em Luana sempre admirei. Confesso, duvidei de relatos fantásticos, como o das tuas aventuras em ondas de sete metros na praia de Acapulco. Ao mesmo tempo, admirei a coragem que o levou a eternizar nas páginas de um livro, uma história feita não só de prazeres e alegrias, mas também de tristezas e frustrações.
Há algum tempo, quando Luana me contou sobre a partida de sua mãe e descreveu os duros meses que precederam o dia triste, fiquei pensando no que leva uma filha e um companheiro a abdicar do mundo lá fora para compartilhar a dor, tentar amenizar o sofrimento e encarar de frente sua impotência diante do drama. Para alguém como eu, que vive de questionar os porquês do comportamento humano, seu livro serve de evidência que há muito que não será compreendido jamais. Agora, tenho a sensação nítida de que ainda que tentemos interpretar o amor, trata-se de algo que não encontra lugar no mundo das explicações lógicas, mas que felizmente, pode ser vivamente sentido por pessoas de sorte.
Assim, entre todas as linhas impressas, o que li foi o seu amor – este sentimento que se manifesta de formas tão diversas, que as vezes é tímido, discreto. Entratanto, no livro que acabo de ler, o amor não me pareceu nada discreto. A mim, seu amor por Raquel pareceu tão escancarado quanto a atitude de uma mulher que se levanta só no salão de um restaurante, dança tango e recebe os aplausos de desconhecidos em um país distante.
Obrigada por compartilhar tanto.
Com admiração,
Cristina